
SANTOS
Tomáz de Aquino Resende
Na minha casa moram dois Santos. Eram três, um voltou pra casa dele. Quem não entende fala que ele morreu.
Não gostam de pompa. Usam apelidos: “Chico”, “Tati”, “Marcelão”.
As pessoas que passam por lá, enganadas, acham que santos são os outros. Os que dão banho e comida pra eles. Os que são, na verdade, por eles cuidados.
Foi minha mãe, que tinha parte com Deus. Queria um filho padre. Merecia mais.
Marcelão com seus cem quilos, na cadeira de rodas “reforçada” toma “bença” de todos.
Beija a mão até dos pequenos. Os maiores, todos, são seus padrinhos. Reza e profetiza.
Tati parou de falar nossa língua. Parou de andar. Fica quieta e sozinha. Só na cama.
Agora, conversa com os anjos. Ri muito. Acho que de nós. Dos nossos “pobremas”, como ela dizia.
A vantagem de ter santos em casa ao vivo, é que fica mais fácil entender a vida.
Vendo eles não andar. Não falar. Sentir dor e sorrir. Fica complicado preocupar com o nó da gravata, com a cor do vestido. Com tanta tolice.