"Estou apaixonado? - Sim, pois espero."
O outro (Quem não está apaixonado) não espera nunca.
Às vezes, quero representar aquele que não espera;
tento me ocupar em outro lugar, chegar atrasado;
mas nesse jogo perco sempre:
o que quer que eu faça,
acabo sempre sem ter o que fazer, pontual, até mesmo adiantado.
A identidade fatal do enamorado
não é outra senão:
sou aquele que espera"
"A espera é um encantamento: recebi ordem de não me mexer. Assim, a espera de um telefonema se tece de interdições mínimas, ao infinito, até o inconfessável; me impeço de sair da sala, de ir ao banheiro, até de telefonar (para não ocupar o aparelho); tenho medo que me telefonem (pela mesma razão); me desespero só de pensar que a tantas horas terei de sair, correndo assim o risco de perder a chamada benfazeja, a volta da Mãe. Todas essas distrações que me solicitam seriam momentos perdidos de espera, impurezas da angústia. Porque a angústia da espera, na sua pureza, quer que eu fique sentado numa poltrona, o telefone ao meu alcance, sem fazer nada."