9.16.2006

Ser ou Não Ser


"SER OU NÃO SER...
eis a questão.

Será mais nobre sofrer na alma
Pedradas e flechadas do destino feroz
Ou pegar em armas contra um mar de angústias
-E, combatendo-o, dar-lhe fim?
Morrer; dormir;
Só isso. E com o sono - dizem - extinguir
Dores do coração e mil mazelas naturais
A que a carne é sujeita; eis uma consumação
Ardentemente desejável.
Morrer... dormir...
Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo!
Os sonhos que hão de vir no sono da morte
Quando tivermos escapado ao tumulto vital
Nos obrigam a hesitar; é essa a reflexão
Que dá à desventura uma vida tão longa.
Pois quem suportaria o açoite e os insultos do mundo,
A afronta do opressor, o desdém do orgulhoso,
As pontadas do amor humilhado, as delongas da lei,
A prepotência do mando, e o achincalhe
Que o mérito paciente recebe dos inúteis,
Podendo, ele próprio, encontrar seu repouso
Com um simples punhal?
Quem aguentaria fardos,
Gemendo e suando numa vida servil,
Senão porque o terror de alguma coisa após a morte
-Esse país não descoberto, de cujos confins
Jamais voltou nenhum viajante
-Nos confunde a vontade,
Nos faz preferir e suportar os males que já temos,
A fugirmos pra outros que desconhecemos?
E assim a reflexão faz de todos nós covardes.
E assim o matiz natural da decisão
Se transforma no doentio pálido do pensamento.
E empreitadas de vigor e coragem,
Refletidas demais, saem de seu caminho,
Perdem o nome de AÇÃO..."

(W. Sheakespeare - HAMLET, ato III, cena 1.)